Tuesday, November 18, 2008

Coisas Possíveis


Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu.
A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu... A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar. Mas eis que chega a roda viva e carrega o destino pra lá...”


Procurando umas músicas pra baixar da internet ouvi esse pedacinho de letra da música de Chico Buarque que ficou rodopiando na minha cabeça pro resto do dia.

Atualmente, dentre outras coisas, trabalho com organização de casas e espaços em geral, o que para mim, significa também tentar decifrar o porquê carregamos sempre tantas coisas conosco. Na casa, na bolsa, nos bolsos, no carro, no escritório...
Na mesma noite assistindo a uma reprise daquele seriado LOST, fiquei sabendo que uma das atrizes da série teve sua casa incendiada no começo do ano.
Perdeu todas as fotos de infância, os diários, os primeiros móveis comprados com o dinheiro próprio, os glamorosos vestidos de gala e, certamente, alguma carta de amor. Quando perguntada sobre como estava se sentindo, disse: “pura”.

Depois de algumas perdas pelo caminho, na mesma hora entendi o teor da resposta.
A sensação de apego – por objetos, pessoas ou lugares – é uma prisão que nós mesmos criamos onde entramos para sentir segurança.
Pensei imediatamente em quantas vezes eu mesma agi assim, tentando reter um momento especifico da minha vida, uma pessoa que me faz feliz, o primeiro sapatinho da minha filha ou uma caixa cheia de passado.
Não penso que isso seja condenável, é humano oras bolas. E, muitas vezes até doloroso.
Você já parou para pensar nisso? Já olhou para o fundo das gavetas, no fundo dos armários, onde guardamos as caixas com coisas que, pensamos, uma hora ou outra servir para alguma coisa, mas que, na verdade, nunca mais são olhadas e, quando são, é apenas uma lágrima minúscula... O que tinha lá? Por que estava lá?
O que é usado constantemente nos faz feliz, fica à mostra na estante, nas paredes, na sala, no sorriso, nos encontros.
O balanço, o vai e vem talvez seja o mais forte alicerce que temos neste mundo.

Não estou dizendo que temos que viver solto, sem lembranças, ou raízes. Mas é preciso encontrar uma medida, um ponto de equilíbrio entre o que foi e o que será. Porque definitivamente não podemos controlar a roda da vida.
Ainda bem né?