Monday, January 12, 2009

Terapia na Horta

Desde criança queria ter uma horta, mas nunca tivemos espaço para ela, entretanto tive por alguns anos uma vizinha que tinha no quintal de casa horta e um galinheiro, e por sorte nos tornamos grandes amigas.
Morei na cidade a maior parte da minha vida, não tinha contato com bichos, mato, jardins e muito menos com hortas.
Quando chegou o dia que pude ter um pedacinho de terra a primeira coisa que pensei foi em começar uma horta.
Não vou falar que é fácil não. Primeiro que enfiados dentro daquela mata, logo descobri que quem dá as ordens é apenas a natureza, que esta em constante movimento e onde TUDO depende das estações do ano.
Na terra a matéria-prima é imperfeita e misteriosa, a natureza é pronta, resoluta, inesgotável, lança plantas com vigor e liberdade e quanto menos valiosa a planta, mais rápido e esplêndido o seu crescimento - já repararam nisso?
Comecei devagar, primeiro plantei só ervas para chás, banhos e temperos, depois fui para as pimentas e tomatinhos, os legumes, as folhas...
É preciso saber dar e receber, ter paciência, jeito, um pouco de estudo e habilidade, mas antes de tudo ter tempo, um projeto e uma intenção.

Jamais poderia imaginar ou calcular em valores o viço, a saúde e o encantamento que a natureza dá diariamente, sem falar na grande safra de antecipações que vem logo que as primeiras sementes rompem a superfície da terra.
Observá-los por entre as moitas e descobri-los expondo-os a luz do sol é uma delicia, a vida oferece poucos momentos como este. Mas logo é preciso colhê-los, apanhá-los antes que caiam, e no mundo (hora na terapia) a parte mais desagradável é sempre essa de apanhar as coisas do chão.

Hoje, não conheço nada que dê mais satisfação e orgulho, do que ter à mesa legumes e verduras da minha própria horta.
Quando entro num supermercado e vejo as verduras, as ervas, os legumes, me vêm uma ponta de orgulho – “Ah que delicia! Também tenho uma horta e posso desfrutá-la à vontade.

Caminhando por entre os corredores do supermercado fico sempre pensando... Hum, “este ano não preciso comprar pimentas, alecrim, manjericão e tantas outras coisinhas que eu mesma plantei inclusive algumas frutas que caem aos montes ano chão porque não é possível dar conta. - Alguém poderia dizer: “Será que compensa? Tanto trabalho? Penso por alguns instantes que essa pergunta agora para mim seria o mesmo que perguntar: Um pôr de sol compensa?”
Observar as verduras crescendo de um dia para o outro me faz pensar em algumas pessoas:

– A Alface, por exemplo, é como uma conversa: precisa ser fresca e nova, vivente a ponto de não revelar o amargor. Mas a alface, como a maioria dos conversadores, tem tendência para murchar rapidamente. Feliz aquela que chega ao apogeu e aí se demora como algumas pessoas que eu conheço – cada vez mais sólidas apetecíveis e tenras ao mesmo tempo, mais brancas no centro e viçosas na maturidade.

A Alface como a conversa, exige muito azeite, para evitar atrito e harmonizar o grupo; uma pitada de sal; outra de pimenta; certa quantidade de mostarda e vinagre, naturalmente, mas tão misturados que não se notem contrastes marcado e ainda um pouquinho de açúcar.

Numa salada, como na conversa pode-se pôr de tudo, e quanto melhor; mas o segredo esta na mistura.
Sinto-me na melhor sociedade depois que passei a observar o crescimento de um pé de alface.
Possuir um pedacinho de terra revolvê-la com a enxada, plantar sementes e observar a renovação da vida – eis o encantamento mais comum da espécie humana.
Vista do lugar