Monday, May 11, 2009

Viver com menos é possível

“Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu... A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar. Mas eis que chega a roda viva e carrega o destino pra lá...”
Procurando umas músicas pra baixar da internet pro meu Ipod, ouvi esse pedacinho da letra da música de Chico Buarque e ficou rodopiando na minha cabeça pro resto do dia.

Trabalhei bons anos com organização de casas e espaços comerciais.
Essa foi parte das atividades que exerci e que para mim, significa também tentar decifrar o porquê carregamos sempre tantas coisas conosco. Na casa, na bolsa, nos bolsos, no carro, no escritório...

Neste mesmo dia assistindo uma reprise daquele seriado LOST, fiquei sabendo, através de uma entrevista nos intervalos, que uma das atrizes da série teve sua casa incendiada no começo daquele ano.
Perdera todas as fotos de infância, os diários, os primeiros móveis comprados com o dinheiro próprio, os glamorosos vestidos de gala e, certamente, alguma carta de amor.
Quando perguntada sobre como estava se sentindo disse:- Pura.
E digo a vocês que sinceramente não me pareceu demagogia barata não.

Ela tentava expressar ao repórter que depois da fase de sofrer muito, chorar e lamentar cada coisinha perdida entendeu que aquele fogo significou um ritual de libertação - Uma maneira de entender que os ciclos da vida se fecham e que tudo é transitório, mesmo que a gente evite acreditar nisso.

Pensei imediatamente em quantas vezes eu mesma agi assim, tentando reter um momento especifico da minha vida, uma situação, uma pessoa, e alguns objetos como o primeiro sapatinho da minha filha ou uma caixa cheia de passado.
Tá certo, não é nada tão condenável assim, é humano oras bolas, e muitas vezes até doloroso.
Você já parou para pensar nisso? Já olhou para o fundo das gavetas, no fundo dos armários, onde guardamos as caixas com coisas que pensamos uma hora ou outra servir para alguma coisa, mas que na verdade nunca mais são olhadas e, quando são, é apenas uma lágrima minúscula...

O que tinha lá? Por que estava lá?

O que é usado constantemente nos faz feliz, fica à mostra na estante, nas paredes, na sala, no sorriso, nos encontros.

A sensação de apego por objetos, pessoas ou lugares – é uma prisão que nós mesmos criamos onde entramos para sentir segurança.
Quem sabe não é o balanço, o vai e vem o mais forte alicerce que temos neste mundo?!.
Não estou dizendo que temos que viver solto, sem lembranças, ou raízes. Mas é preciso encontrar uma medida, um ponto de equilíbrio entre o que foi e o que será.

Porque definitivamente não podemos controlar a roda da vida.

Ainda bem né?