Tuesday, July 7, 2009

Brasil - O Encanto da arte do cotidiano

Já contei aqui que tudo que aprendi até hoje sobre artes manuais foi dentro de casa. Observando aqui e ali, aprendi com as avós, as tias e a mamãe. Muitas daquelas idéias e jeitos de fazer têm haver com quase tudo que faço hoje. Senta que lá vem história.
Posso dizer que reinvento todos os dias, sim, porque todos os dias surgem novas idéias, novas, técnicas mais fáceis, materiais ecológicos... A criação brasileira se manifesta com força e beleza em cada canto do país.
Recentemente tive a oportunidade de confirmar esse fato muito de perto.
Tivemos (eu e uma prima) uma pequena lojinha de produtos para a casa e um pouco de acessórios de moda num bairro bem legal aqui em Sampa.
Vendíamos de tudo um pouco, mas sem dúvida o que era artesanal, repaginado ou reciclado, não esquentava nas prateleiras de jeito nenhum.
Ali aprendi muito e conheci um novo universo e reciclei idéias! Por esse lado foi muito gratificante mesmo. Aliás, meu conceito de super homens e mulheres bem sucedidas mudaram totalmente.
Éramos procuradas por empresas grandes para bolar brindes de final de ano, por escolas, por empresas de evento, enfim por pessoas que viam possibilidades diferenciadas em presentear com idéias novas e personalizadas.
Acompanho de perto a reviravolta que a internet promove todos os dias, percebo pessoas jovens bem educadas com ensino superior, diplomas e especializações variadas, se dedicando a fazer trabalhos artesanais e isso parece ser um fenômeno mundial. Esse novo perfil de artesãos e negócios vai crescendo dia a dia com o surgimento de sites, blogs e comunidades on line.

O que mais curto nisso tudo é ver o trabalho artesanal sendo valorizado como merece. Hoje por exemplo, mães que optam em deixar seus “bons empregos” para criar os filhos encontram independência e valorização numa atividade manual sem abrir mão do tempo com a família ou bem estar.
Podem reparar produtos artesanais, reciclados, produzidos com cuidados ambientais estão cada dia mais valorizado, ninguém agüenta mais consumir produtos chineses, de produção massiva, pior escrava e de qualidade duvidosa.
Tá certo! Dependemos das grandes indústrias e de uma parafernália de produtos e tecnologias e eu gosto de comprar bons produtos, máquinas, utensílios, eletrônicos de ponta... Precisamos de dinheiro, precisamos viver com dignidade e isso é muito positivo para a economia.
Mas, também é mais do que hora de olhos atentos garimpar tesouros escondidos em rios, serras e vales. Um bom momento de se reconhecer nas redes de D. Pedro II, no Piauí; de se abrigar nas mantas de lã dos pampas gaúchos; de enfeitar a casa com rendas do Ceará e de Santa Catarina... De lembrar a infância e sorrir com as galinhas de quintal, presentes na arte popular de norte a sul, de leste a oeste.
Tem muito trabalho por ai feito em casa ou não, bem cuidado e elaborado, com uma cara mais moderna, diferente pronta para atender sob medida o consumidor conscientemente que sabe fazer conta de custo beneficio – Isso é bom demais!

Entretanto o trabalho artesanal e cuidadoso deve ser consumido e valorizado pelo que é em si, ou seja, quando desejamos um objeto para a casa, para aquele canto especifico ou quando queremos presentear alguém com personalidade, ou ainda quando saímos à caça daquela peça perfeita que falta em nosso guarda roupas... Não as encontramos nos shoppings centers, nem na revistas de moda! Muitas coisas são feitas sob medida e hoje num mundo cada vez mais impessoal, onde se compra a rodo e a toda hora, acho que consumir de maneira consciente aumenta e diversifica as opções de compra, alegra os olhos e faz bem danado para a alma!
Essa almofada é da Samariquinha
A Boina é do Pessoal da Paranoarte de Brasília
Mas não é só de gente jovem que vive esse mercado não. A mamãe é um bom exemplo.
Hoje no auge dos seus 76 aninhos, viúva há mais de 20 anos, vive com bastante dignidade e do trabalho dela como artesã. Mora bem, paga suas despesas, investe nas suas criações, tem vida profissional ativa e pasmem! Não perde nenhum curso novo.
Além disso, é sempre convidada para expor em feiras, bazares descolados, e atualmente também é fornecedora exclusiva de uma loja badalada nos jardins.


Sem nenhum problema de saúde, completamente lúcida e acreditando que Ronaldo Fenômeno vai marcar pelo menos 30 gols este ano. Não perde nenhuma partida dos campeonatos favoritos e é freqüentadora assídua de bingos clandestinos (desculpe mamãe te entreguei).
Ah, só mais um detalhe: ela odeia, essa é palavra, odeia tirar fotografias. Sempre coloca a mão na cara para não aparecer nas fotos. Essa imagem foi do último dia das mães , portanto, é uma raridade.
Se você gosta de artesanato, sabe fazer, têm boas idéias, gasta sua energia criando cada vez mais coisas incríveis, vale terceirizar sim, tem muita gente que gosta mais da produção e precisa de trabalho. O lucro diminui? Em parte.
Se pensarmos no lucro não somente financeiro, mas pelo bem comum, desenvolvendo parcerias, distribuição dos produtos, sem perder o foco artesanal, fica equilibrado e quando aprendemos a dividir ganhamos mais.

Então se me permitem gostaria de deixar uma sugestão para pensar:
Se a profissão que você escolheu não te garante direito nem o "certo no fim do mês, Por que não?!!Afinal, estamos nessa vida e passamos tão pouco tempo nela... Nesse caso não seria melhor experimentar respeitar a própria individualidade? Valorizar sua criatividade e ficar mais de bem com o mundo?!
E viva o mundo criativo!!!
Somos muito diferentes, então por que parecer iguais?
Impossível citar ou mostrar todas as pessoas geniais espalhadas pelo nosso Brasil, ONGS, Artesãos, Estilistas e Designers...

Mas, compartilhar idéias, compartilhar amor, compartilhar emoções. É o que nos faz mais vivos e felizes! Eu me sinto assim.