Friday, June 18, 2010

O perigo mora ao lado


Impotência. Decepção. Indignação. E uma boa dose de revolta também. Não tem como negar sentimentos assim quando tiram algo de você sem pedir licença e sem aviso prévio... Aconteceu comigo na última quarta-feira.


Fui ao supermercado, para comprar poucas coisas que estavam faltando em seguida fui almoçar com a minha irmã. Quando voltei, eis a grande e desagradável surpresa: minha casa foi assaltada.
Só para constar; moro numa rua tranqüila num bairro de São Paulo “considerado” nobre, num edifício de apartamentos com portaria 24 horas. Fiquei arrasada e muito indignada.

Meu coração disparou, ao constatar o fato e dar falta de equipamentos, jóias etc. fiquei totalmente desnorteada. Tomei as providências necessárias falar com funcionários, vizinhos, sindico, policia...
Não houve arrombamento foi furto (não houve violência) , o marginal entrou calmamente pela porta da frente e roubou dois apartamentos no mesmo andar e saiu sem ninguém ter visto NADA.

Ir a polícia denunciar um crime é uma experiência desoladora, que nos põe em contato com uma espécie de desânimo aprendido e de sensação de impotência policial.
Uma queixa, em vez de suscitar ação rápida ou movimentos táticos reparadores da ordem, suscita apenas uma série de comportamentos burocráticos que nos incomoda demais e com certeza não incomoda minimamente o marginal.
Ou seja, nem vimos o marginal nem vemos a polícia.

Nestas condições, fica claro que há terreno fértil para o crescimento do sentimento de insegurança.
Os marginais estão ali em nossas esquinas, talvez na vizinhança da minha casa, vigiando meus horários e hábitos.
Será mesmo que não se pode confiar em mais nada ou ninguém?
Todo esse cenário me lembra aquele filme onde o melhor amigo do cidadão dormia com sua esposa; enfim, dormia com seu futuro inimigo.

O crescente aumento da violência nas grandes cidades, o aumento das atividades terroristas em determinados países traz ao mundo um novo tipo de inimigo, nosso próprio vizinho.
O inimigo, o cara mau não é mais aquele soldado de um país distante, que espera ser declarada a guerra para atacar. Ele está aí, convivendo com você.

Passado o susto e a enorme sensação de vazio e frustração, me veio à tona as lembranças dos objetos que foram roubados: As poucas lembranças que guardei com tanto zelo e carinho que foram da mamãe, dos meus filhos ainda pequenos, das minhas avós; o primeiro anel de formatura, as primeiras jóias que ganhei na vida de pessoas queridas, enfim, coisas que podemos substituir facilmente, por serem coisas materiais. Mas que se torna insubstituível pela a história que cada uma daquelas coisinhas especiais carregava consigo.
Coisas que muito provavelmente não retornarão e que dinheiro nenhum poderá pagar, pois estavam acompanhadas de sentimentos únicos e de lembranças muito boas.

O pior de tudo para mim foi terem levado meu laptop e assessórios da câmera.
A sensação de ter seu notebook roubado é a mesma de ter um carro roubado que não tinha seguro. È esquisito. Minha primeira reação foi pensar: não tinha backup!
Como recuperar o que tinha dentro? Na realidade o aparelho não importa tanto, mas o conteúdo sim.

Todo o meu trabalho estava naquele computador, milhares de fotos, minhas musicas, anotações, tarefas... Um livro que eu vinha escrevendo há mais de 5 anosssss. Ou seja, parte da minha vida estava arquivada ali. Sentei e chorei.
Devo ter alguma coisa armazenada em algum dos pen-drives e CDS por ai, mas não tenho feito isso há algum tempo.

Apesar de protegido por várias senhas, os dados deverão ser apagados e tudo estará perdido. A sensação é de não acreditar e até de duvidar da própria qualidade da visão e da memória.

Depois que tive o computador roubado, eu pensei: será que, se o ladrão ligar meu computador à internet, não é possível rastrear meu equipamento? Fui pesquisar na internet e descobri que existem alguns programas desenvolvidos para esse tipo de situação. São esses softwares previamente instalados que ajudam se o seu computador for roubado e se em algum momento o ladrão ligar a máquina à internet, o software te envia informações que podem ajudar a localizar o equipamento. São tecnologias de rastreamento que pegam as informações sobre a conexão em que o notebook está ligado para tentar localizar a origem dessa conexão. Inclusive, se o laptop tiver uma câmera integrada (hoje em dia quase todos tem) o software pode tirar fotos para ajudar na identificação do criminoso. Coisa de filme do James Bond. 
Pelo que eu li não resolvem muita coisa porque nenhum desses programas de proteção sobrevive a uma formatação, e o meu laptop já era.

Eu nem sabia que existia esse tipo de serviço. Com certeza vou comprar algo do tipo para o meu próximo computador. Uma HD externa quem sabe.
 Sinceramente não sei se estou preparada para tantos dispositivos de controle, fazer backups diários, checar e-mails na praia, redigir posts na fila do supermercado ou assistir a um vídeo no Youtube enquanto aguardo o carro ser lavado.

Por mais que isto aparente ser fascinante (e de fato é) temo pelo dia em que a humanidade conclua que tudo de que precisa cabe dentro do bolso. Que é mais fácil pesquisar um endereço no Google do que perguntar a alguém de carne e osso, com quem se cruza na calçada.
Bem amigos, as  manchetes de jornal tem apontado uma direção, olhe bem! O inimigo não está embaixo da cama, ele está do seu lado, no seu bairro é seu vizinho.

Para finalizar gostaria de dizer que  por mais desapegados que formos às coisas materiais, melhor. Mas que fica uma marquinha dolorida quando perdemos algumas coisas, ah isso fica!
E controlar sentimentos não muito bons em relação às pessoas que cometem esse tipo de coisa é muito complicado, por mais espiritualizados que tentemos ser na vida. O melhor mesmo é virar a página e continuar caminhando.